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Brasil convive com repetidos surtos de vírus sincicial respiratório, que coloca em bebês risco

No estado de São Paulo, duas unidades de referência em atendimento pediátrico registraram alta de 20% dos casos de complicações respiratórias causadas pelo patógeno


Vírus sincicial respiratório circulou praticamente durante todo o ano de 2022

MARCELLO CASAL/AGÊNCIA BRASIL


Um velho conhecido dos médicos pediatras tem sido objeto de preocupação desde o afrouxamento das medidas restritivas impostas pela pandemia de Covid-19: o VSR (vírus sincicial respiratório), que afeta crianças e pode causar doença grave especialmente em bebês.


No ano passado, o Brasil teve pelo menos dois picos de infecções, um no primeiro semestre e outro no segundo. Entretanto, 2022 terminou com um novo sinal de aumento.


O boletim InfoGripe, um monitoramento periódico feito pelo Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), mostrava que o VSR representava apenas 0,5% das internações por Srag (síndrome respiratória aguda grave) no mês de novembro e começo de dezembro.


Já no período entre 11 de dezembro e 7 de janeiro, a prevalência de VSR entre os internados por complicações respiratórias saltou para 12,6%, sendo as principais vítimas pacientes de zero a quatro anos.


A Secretaria de Estado da Saúde informou ao R7 que nas últimas quatro semanas, os dois hospitais infantis de referência – Darcy Vargas e Cândido Fontoura – "registraram aumento de cerca de 20% nos atendimentos para o vírus sincicial respiratório".


Ainda de acordo com a pasta, não houve até o momento lotação dos leitos de enfermaria e UTI pediátrica disponíveis na rede do SUS no estado.


Na rede privada da capital paulista, o Hospital Infantil Sabará chegou a ter quatro casos positivos para cada dez testes rápidos de VSR realizados, entre 10 e 16 de dezembro. Este percentual caiu na última semana de 2022, mas teve um ligeiro aumento nos primeiros sete dias deste ano, atingindo 18%.


A infectologista Juliana V. S. Framil, do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Infantil Sabará ressalta que este percentual pode ter a ver com a época do ano.



"Na primeira de semana de janeiro, a procura dos pacientes com sintomas respiratórios diminuiu, mas muito provavelmente essa redução reflete a baixa procura pelo hospital por causa do período das festas de fim de ano – a população, em sua maioria, viaja e evita procurar o hospital, exceto diante de sintomas mais graves" conta.


O médico Renato Kfouri, membro da diretoria da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e da SBIm, explica que esses frequentes surtos de VSR têm como pano de fundo o isolamento ao qual muitos bebês e crianças foram submetidos, fazendo com que houvesse um "acúmulo de suscetíveis".


"[Foram] dois anos sem circulação nenhuma do VSR, sem exposição nenhuma das crianças. Acumulou duas, três coortes de nascidos sem exposição. A sazonalidade desorganizada, pelo predomínio do coronavírus. Tudo isso tem feito com que a circulação extemporânea de outros vírus respiratórios – não só VSR – aconteça fora dos períodos habituais, com irregularidades também não habituais", observa.


O especialista, todavia, diz que é imprevisível saber quando o vírus sincicial respiratório voltará a ter padrões normais de circulação – os picos de transmissão ficavam restritos ao outono e início do inverno antes da pandemia.


O vírus e os cuidados

O VSR é classificado como um pneumovírus, tendo subgrupos A e B. Segundo o Manual Merck de Diagnóstico e Tratamento, ele é "onipresente" e "quase todas as crianças são infectadas aos quatro anos de idade".


"Como a resposta imunitária ao VSR não protege contra reinfecção, a taxa de ataque é de aproximadamente 40% para todas as pessoas expostas. Contudo, anticorpos contra o VSR diminuem a gravidade da doença. O VSR é a causa mais comum de doença do trato respiratório inferior em crianças pequenas", acrescenta o manual.


Desta forma, os bebês acabam sendo mais suscetíveis a desenvolver complicações respiratórias por causa do vírus sincicial respiratório justamente pela ausência de anticorpos adquiridos.


"A maior causa de internação é piora do padrão respiratório, com necessidade de suporte de oxigênio. Lactentes com menos de seis meses de idade, principalmente prematuros, crianças com doença pulmonar crônica da prematuridade e cardiopatas representam os grupos de maior risco para desenvolver infecção respiratória mais grave", alerta Juliana.


A infecção pelo VSR pode evoluir para quadros de bronquiolite (inflamação das pequenas vias aéreas dos pulmões) ou para pneumonia (infecção dos pulmões).


"Uma a duas em cada 100 crianças com menos de seis meses de idade com infecção por VSR podem precisar ser hospitalizadas. Aqueles que estão hospitalizados podem precisar de oxigênio, intubação e/ou ventilação mecânica [ajuda na respiração]. A maioria melhora com esses tipos de cuidado de suporte e recebe alta em poucos dias", acrescentam os CDC (Centros de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos.


Em casos que não requerem hospitalização para suplementação de oxigênio, o tratamento é de suporte. Consiste em manter bons níveis de hidratação e medicamentos para febre e dor, quando necessários.


Todavia, pais ou responsáveis devem sempre buscar orientação médica antes de dar qualquer remédio às crianças.


Até o momento, não existe uma vacina disponível contra o VSR. A prevenção se dá da mesma forma de outras doenças transmitidas pelo ar.


No caso de crianças maiores, pode-se adotar o uso de máscaras. Mas nos bebês, o recomendável é que permaneçam longe de pessoas e outras crianças com sintomas gripais.


* SAÚDE | Fernando Mellis, do R7


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