Óbitos estão acima de cem vítimas diárias há uma semana, enquanto menos de 40% das pessoas abaixo de 60 anos tomaram dose de reforço, o que facilita circulação do vírus
Funcionário da área da saúde extrai uma dose da vacina contra a Covid-19 da AstraZeneca, 29 de janeiro de 2021. REUTERS/Dinuka Liyanawatte Foto: Reuters
O Brasil está passando por um novo aumento de mortes por covid-19, com um crescimento de 16% nos óbitos, em relação aos últimos 14 dias, e o sétimo registro diário acima de 100 mortes. Em 6 de maio, o Brasil tinha 94 mortes por dia, em média. Na sexta-feira, 20, atingiu 109. O novo avanço ocorre no momento em que se observa uma estagnação nos números de vacinação e o Boletim Infogripe da Fiocruz alerta que os casos de covid voltaram a predominar entre as causas de internação por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e já respondem por 41,8% dos registros.
Embora 80% da população já tenha tomado pelo menos duas doses do imunizante, a proteção com reforço não é tão alta em algumas faixas etárias. Nos grupos mais jovens, está abaixo da média considerada satisfatória. Entre os menores de 60 anos, por exemplo, menos de 40% das pessoas tomaram a dose de reforço. Nas crianças entre 5 e 11 anos, 32% estão com esquema vacinal completo. Esse porcentual permite que o vírus continue circulando. "Mesmo que essas pessoas não apresentem casos graves da doença, elas mantêm o vírus em circulação, e podem levá-lo para os mais vulneráveis", explicou o pesquisador da Fiocruz Marcelo Gomes, responsável pelo Infogripe.
É importante dizer que os números ainda estão distantes dos momentos mais graves. O pico foi relatado em 8 de abril no ano passado, com 4.249 óbitos - considerando relatos diários das Secretarias de Saúde.
Mas, o dado em relação às mortes em decorrência do novo coronavírus não foi o único indicador preocupante divulgado na sexta-feira. Depois de quase três meses de estabilidade, a taxa de transmissão do Sars-CoV-2 voltou a subir e já alcança 1,25 (o ideal é que o número fique abaixo de um). Isso indica circulação mais intensa do vírus, segundo dados da plataforma de monitoramento da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
MÁSCARAS
Outra questão importante é que as medidas de proteção aplicadas ao longo dos últimos dois anos, como o uso de máscaras e as restrições às aglomerações, foram praticamente eliminadas. Com o aumento da circulação de outros vírus respiratórios e a chegada de um inverno que promete ser mais rigoroso este ano, especialistas temem que a alta se mantenha por algum tempo.
"Esperamos que o número de novos casos suba mais", afirmou a especialista em saúde pública Chrystina Barros, do Comitê de Combate ao Coronavírus da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "A adesão ao reforço vacinal foi baixa, deixamos de lado medidas de proteção e, agora, com a chegada do inverno, o impacto deve ser maior, ainda que sem a gravidade que vimos em ondas anteriores, quando a população não estava imunizada."
volta do uso de máscara em locais fechados, como Londrina (PR), Petrópolis (RJ) e Poços de Caldas (MG), enquanto outros, como Belo Horizonte, cogitam retomar a obrigatoriedade da proteção individual. Isso em um momento de baixa testagem, o que pode revelar uma subnotificação.
Na quarta-feira, a Prefeitura de Belo Horizonte chegou a divulgar comunicado alertando para a possibilidade de voltar a exigir máscara em locais fechados, apenas 20 dias após seu uso ter sido declarado opcional. O boletim divulgado na véspera mostrava aumento de 18% nos casos em sete dias.
Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e responsável pelo setor de infectologia da Unesp, Alexandre Naime Barbosa diz que ainda é muito cedo para falar em quarta onda. "Estamos vendo um aumento de novos casos por conta da extrema flexibilização das medidas de proteção; não há mais obrigatoriedade de uso de máscara em nenhum lugar, por exemplo", afirmou o médico. "A situação acende uma luz de alerta até para que tenhamos a possibilidade de rever certas medidas de prevenção, como o uso de máscaras em locais fechados. Mas não significa que vamos enfrentar nada comparável ao que vimos nas ondas anteriores."
SÃO PAULO
A curva de óbitos no Estado está em ascensão. Há 14 dias, em 6 de maio, a média móvel estava em 20 óbitos. Chegou a cair para 16 e, depois disso, os números têm crescido. No Estado, a média móvel ficou em 42 nesta sexta, mais do que o dobro dos registros de duas semanas atrás. A média móvel elimina distorções entre dias úteis e fim de semana.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo reforçou que nos últimos meses os números estão em queda. "No momento, a taxa de ocupação dos leitos de UTI destinados à doença no Estado está em 25,7% (em janeiro esse índice chegou a 75,1%)".
* https://www.terra.com.br/COLABOROU ALINE RESKALLA, ESPECIAL PARA O ESTADÃO
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