Médicos afirmaram que problemas como arritmias cardíacas e crises de ansiedade podem ser provocadas pela combinação. Segundo ABIR, consumo e produção de energéticos vem aumentando no país ano após ano desde 2017.
bebida energética — Foto: Pixabay
Com dezenas de blocos já nas ruas do Rio de Janeiro nesta sexta-feira (17), muitas pessoas já montaram sua programação para o carnaval carioca. E o planejamento do folião mais animado também conta com as opções de bebidas que vão acompanhar o reinado de Momo. Contudo, é bom ficar ligado para os riscos de uma mistura que vem fazendo a cabeça de muitos durante a folia: álcool com energético.
Segundo o psiquiatra Jorge Jaber, os riscos desta associação podem ser constatados por quadros de agitação psicomotora, alucinações e, principalmente, alteração na capacidade de dirigir veículos, o que acarreta acidentes graves e fatais no período do carnaval.
De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir), a produção e o consumo de energéticos vem aumentando no país ano após ano desde 2017.
Em 2021, ano do último levantamento da Abir, a produção de energéticos ultrapassou os 185 milhões de litros. Um aumento de 22,7%, em relação ao ano de 2020.
Entre 2017 e 2021, o consumo de energéticos subiu de 400 ml ao ano por habitante para mais de 800 ml por pessoa em todo o país. Entre 2020 e 2021, o aumento do consumo foi de 21,8%.
Risco de problemas cardíacos
O g1 buscou especialistas da área de saúde para entender quais são os riscos do consumo excessivo de bebidas alcoólicas junto com os famosos energéticos, que comumente são compostos de cafeína, taurina, vitaminas, bem como outras substâncias como glucoronolactona, aromatizantes e corantes variados.
Foliãs do bloco Me Esquece, no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio — Foto: Gabriel Monteiro/ Riotur
Na opinião do médico Daniel Setta, coordenador da Linha de Cuidado de Infarto Aguado do Miocárdio (IAM) do Hospital Pró-Cardíaco, unidade de saúde da rede Américas, localizado na Zona Sul do Rio, arritmias cardíacas podem ser ocasionadas pelo consumo exagerado de bebidas alcoólicas somadas aos energéticos.
"A mistura de energético e álcool em grande quantidade pode ser perigosa para o coração. Principalmente para pacientes portadores de cardiopatias prévias, como fibrilação atrial, extrassístoles frequentes, pacientes com doença arterial coronariana, que já tiveram infarto agudo do miocárdio, e outras cardiopatias", explicou Setta.
Segundo o especialista, a quantidade de cafeína presente nos energéticos, junto com o álcool em excesso, leva a liberação de adrenalina e noradrenalina, que propiciam o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial.
Daniel Setta também afirmou que a mistura pode causar espasmo dos vasos sanguíneos do coração, resultando em um infarto agudo do miocárdio.
"Se consumida em excesso, a cafeína, que é um potente estimulante do sistema nervoso central, pode provocar alterações no sistema cardiovascular, como aumento da frequência cardíaca, ataque cardíaco, aumento da pressão arterial. Isso pode desencadear arritmias cardíacas e crises hipertensivas", completou.
Dois dos principais componentes dos energéticos preocupam especialmente: a cafeína e o açúcar — Foto: Gadini/Pixabay
Ainda de acordo com Setta, o consumo de quatro latas pequenas de energético, cada uma com aproximadamente 100mlg de cafeína, já ultrapassa a dose máxima recomendada para uma pessoa em um dia.
"Pessoas com cardiopatias e doenças psiquiatras prévias podem ser mais sensíveis e apresentar problemas com doses ainda menores de energéticos", explicou Setta.
"Além de provocar náusea, vomito e desidratação, o álcool em excesso tem o efeito tóxico ao coração e pode desencadear arritmia e alterações na pressão arterial, além de descompensar doenças cardíacas pré-existentes", completou o médico.
Falta de sono e ansiedade
Os efeitos para quem abusa do álcool com energético não é uma preocupação apenas de profissionais da saúde. Os sintomas e prejuízos causados pela mistura provocaram mudanças de hábitos em muitos amantes da farra.
Apaixonado por carnaval, o engenheiro carioca Rafael Oliveira, de 38 anos, afirmou ao g1 que parou de beber bebidas alcoólicas com energético há mais de cinco anos. Segundo ele, que era um fã da combinação, a decisão foi consequência de sintomas recorrentes como: dificuldade de dormir, ressaca muito forte, angústia e até períodos de depressão.
"O primeiro sintoma nítido de quando eu bebia vodka com energético era que eu chegava em casa por volta de 6h da manhã e às 9h já estava acordado. Ou seja, por mais que eu tentasse, eu não conseguia dormir. Essa foi a primeira coisa que me incomodou", disse Rafael.
"A minha ressaca também era muito pior quando eu bebia essa combinação, principalmente no aspecto psicológico. Tinha forte ansiedade, tristeza, até depressão eram comuns após um dia de excessos. Era terrível", comentou Oliveira.
Para o engenheiro, a mudança de hábitos proporcionou noites melhores de sono. Rafael afirmou que quando bebia apenas cerveja conseguia dormir melhor, entre 6 e 7 horas, e tinha uma ressaca mais suave.
Sargento Pimenta em 2020 — Foto: Fernando Maia/Riotur
Rafael acredita que o aumento do consumo de energéticos e bebidas alcoólicas durante o carnaval está ligado a sensação de maior vigor e resistência a embriaguez. Porém, essa maior energia fazia com que ele consumisse ainda mais álcool, o que afetava o corpo de outras maneiras, como o aumento de problemas no fígado.
"Eu acho a maior furada beber energético com bebida alcoólica. Acho que a maior parte da galera faz isso para aumentar a resistência ao álcool. E te ajuda a aguentar a noite toda, um bloco atras do outro. Dependendo do dia, são 10, 12 horas de festa. Mas na minha opinião, não vale", argumentou Rafael Oliveira.
Água para combater a ressaca
Como disse o sambista Aluísio Machado na música 'Minha Filosofia': "água demais mata a planta". Sendo assim, os foliões podem aprender que o problema está nos excessos.
Para a nutricionista Nemesis Monteiro, da equipe Nutrindo Ideais, a água pode ser a principal arma contra ressacas durante o carnaval. Segundo ela, a água é necessária para hidratar as células, órgãos e tecidos mantendo as funções vitais dos foliões.
"O consumo de bebidas alcoólicas leva à inibição do ADH (hormônio antidiurético) que tem ação renal, reduzindo a reabsorção de água, por sua vez eliminando água na urina levando à desidratação. A ingestão hídrica pode auxiliar na redução dos efeitos gerados pelo consumo de bebida alcoólica como: a ressaca, dores de cabeças, náuseas, êmese (vômitos) e perda de massa muscular", explicou Monteiro.
Caminhão pipa refresca os foliões do Bloco Fogo e Paixão (Imagem de arquivo)
— Foto: Alexandre Durão/G1
A especialista explicou que a quantidade de consumo ideal para cada pessoa está diretamente ligada ao peso do folião. De acordo com Nemesis Monteiro, o consumo de água correto é o peso (kg) multiplicado por 35 ml para adultos e 30 ml para idosos.
Exemplo: se o indivíduo pesa 100 kg ele deve consumir cerca de 3.500 ml ou 3,5 litros de água por dia de forma fracionada, distribuindo o consumo de água pelo seu dia. Para cada dose de bebida alcoólica consumida é sugerido a reposição de 250 ml de água ou na proporção de 1:1.
"A recomendação é que a diversão e a folia sejam pautadas por práticas saudáveis. Hidratação correta, diante das altas temperaturas, intervalos para uma alimentação balanceada e, no caso de qualquer sintoma, consulte o médico imediatamente. Assim, há mais segurança de que a alegria não vá se transformar em preocupação", acrescenta o médico Daniel Setta.
* Por Raoni Alves, g1 Rio
Comentários