Em discurso na Bélgica, o pontífice fez referência a um grande escândalo que abalou a Igreja belga no ano passado, relacionado com abusos de menores e adoções forçadas de crianças de mães solteiras. Primeiro-ministro cobrou 'medidas concretas'.
Papa Francisco na Bélgica — Foto: Alberto PIZZOLI / AFP
O papa Francisco afirmou que a Igreja Católica deve buscar o "perdão" pelo "flagelo" dos abusos sexuais de menores de idade, em um discurso diante de representantes políticos e da sociedade civil na Bélgica, nesta sexta-feira (27).
"A Igreja deve ter vergonha e pedir perdão. Tentar resolver esta situação com humildade cristã e fazer todo o possível para que não volte a acontecer. Penso nos casos dramáticos de abusos de menores, um flagelo que a Igreja está enfrentando com determinação e firmeza, escutando e acompanhando as pessoas feridas e implementando um amplo programa de prevenção em todo o mundo. Esta é a vergonha que todos temos que assumir agora, pedir perdão e resolver o problema", lamentou.
No ano passado, a Igreja belga protagonizou um grande escândalo relacionado com abusos de menores e também adoções forçadas de crianças de mães solteiras. Bispos do país pediram desculpas e solicitaram uma investigação independente sobre os casos.
O site belga HLN calcula que quase 30 mil crianças foram retiradas das suas mães no país entre 1945 e a década de 1980.
"Me entristece o fenômeno das 'adoções forçadas', também presentes aqui na Bélgica entre os anos 50 e 70 do século passado. Nestas histórias espinhosas, misturou-se o fruto amargo de um crime e um delito, com aquilo que, infelizmente, era o resultado de uma mentalidade difundida em todas as camadas da sociedade. Com frequência, as famílias e outras entidades sociais, incluindo a Igreja, pensaram que, para eliminar o estigma negativo, que infelizmente afetava quem era mãe solteira naquela época, seria melhor para ambos, mãe e filho, que este último fosse adotado", disse o pontífice.
O discurso do papa aconteceu depois que o primeiro-ministro da Bélgica fez críticas contundentes ao caso e exigiu "medidas concretas" para esclarecer o passado.
"Hoje, palavras sozinhas não bastam. Também precisamos de medidas concretas. As vítimas precisam ser ouvidas, precisam estar no centro. Elas têm direito à verdade. Os delitos precisam ser reconhecidos. Quando algo dá errado, não podemos aceitar encobrimentos. Para poder olhar para o futuro, a igreja precisa confessar seu passado", cobrou Alexander De Croo.
O rei belga, Philippe, também falou palavras fortes para Francisco, exigindo que a igreja trabalhasse “incessantemente” para expiar os crimes e ajudar as vítimas a se curarem.
Em 2010, o bispo mais antigo do país, o bispo de Bruges, Roger Vangheluwe , foi autorizado a renunciar sem punição após admitir que havia abusado sexualmente de seu sobrinho por 13 anos. Só no início deste ano, Francisco o destituiu, em uma atitude claramente concebida para eliminar uma fonte persistente de indignação entre os belgas antes de sua visita.
* Por g1
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