No Rio, o uso do material pode ocasionar multa de R$ 342
Empinar ou soltar pipa é uma prática comum de crianças e jovens que moram em favelas, periferias e subúrbios do Rio de Janeiro e do Brasil. Devido ao isolamento social, medida adotada como prevenção a proliferação da covid-19, o céu ficou mais colorido pelas pipas, visto que a brincadeira, que estava um pouco esquecida nos últimos tempo, voltou a fazer sucesso. Porém, junto com a diversão da atividade aparecem também os acidentes causados pelo uso de linhas cortantes, conhecidas como cerol ou chilena.
O uso dessas linhas tem suas consequências provadas. São dezenas de casos de cortes, amputações e mortes causadas pelo uso desse material. Os motociclistas são uns dos mais atingidos. Além dos seres humanos, animais também sofrem devido ao uso dessas linhas. Há relatos, por exemplo, de um cachorro que teve seu rabo amputado depois de ter atendido por uma linha com cerol e de um pássaro que sofreu com o um corte em uma das asas.
O cerol é fabricado a partir de uma mistura de cola com pó de vidro que é altamente nocivo para a saúde. Já a linha chilena tem como componentes pó de alumínio e quartzo moído, seu poder de corte é muito superior em relação ao cerol, fator que chamou a atenção e se espalhou rapidamente entre as pessoas quem têm o hábito de soltar pipas.
A linha chilena pode causar lesões graves, até mesmo levar à morte quando atingem o pescoço de uma pessoa, um grande perigo principalmente para motociclistas. E apesar de sua comercialização e a do cerol serem proibidas, os dois podem ser encontrados facilmente em sites de vendas na internet ou até mesmo em comércios de alguns bairros. Por isso, é imprescindível fazer a denúncia de quem vende esses produtos para a polícia.
Pipa e energia elétrica não combinam
Além dos problemas que o uso do cerol pode causar para as pessoas que não estão empinando, a utilização deste material também pode colocar em perigo a vida daquele que está soltando a pipa. O brinquedo pode cortar as pessoas que correm e disputam quem pegará as pipas desprendidas das linhas que caem. Porém, os perigos do cerol não se limitam a cortar alguém. Ele também é um condutor de energia e se a linha atinge a rede elétrica, quem está empinando a pipa pode morrer eletrocutado.
Foto: Thiago Lima / Voz das Comunidades
A Light, empresa responsável pelo fornecimento de energia elétrica no Rio, sugere que as pessoas que soltam pipa na cidade pensem primeiro na segurança. Dados mostram que os casos de pipa em rede elétrica dobraram durante pandemia. As ocorrências de pipas em cabos de energia em março deste ano foi de 44. Enquanto no mesmo período em 2019 os casos foram 20. Em abril, o número foi ainda maior, saltando de 19 no ano passado para 69 neste ano.
Já o número de clientes que tiveram o serviço de energia elétrica interrompido no mês de março mais que triplicou quando comparado com o mesmo período em 2019. Mais de 20 mil pessoas ficaram sem luz por causa de pipas agarradas nos cabos de energia. No ano passado, foram 5,6 mil clientes da Light que tiveram o serviço afetado devido a pipas.
O principal causador de ocorrências no sistema elétrico é o cerol, que tem materiais condutores de energia e pode ainda cortar os cabos da rede elétrica e causar acidentes. Além disso, muitos curtos circuitos são provocados pela tentativa de retirada de papagaios presos aos cabos.
Usar linhas cortantes é proibido
O uso desses materiais é perigoso mas também é ilegal. Desde julho 2019, uma lei estadual proíbe a venda, o uso, o porte e a posse de cerol ou de linha chilena. Segundo a determinação, quem for pego usando o produto poderá receber uma multa no valor de R$ 342. Existe, inclusive, um grupo chamado Movimento Cerol Mata – formado em sua maioria por motociclistas, que reivindica maior fiscalização e punições mais severas para quem usa as linhas proibidas.
Essa multa é referente apenas ao uso de cerol ou linha chilena. Caso a linha atinja alguém, a ocorrência muda de figura. Uma criança de 1 ano e 6 meses teve o rosto cortado por uma linha com cerol no último dia 3 de junho, em Iguaba Grande, na Região dos Lagos do Rio. A mãe da criança contou que carregava a filha na bicicleta quando a criança começou a chorar e sangrar após passarem em um quebra-molas. O bebê foi atingido por uma linha de pipa, a mãe contou que viu alguns adolescentes usando o objeto no local.
A criança foi levada para a UPA e precisou levar seis pontos na bochecha. O corte foi de cerca de 8 cm, com aproximadamente 0,5 cm de profundidade. O caso foi registrado como lesão corporal, que está descrito no artigo 129 do Código Penal, e tem pena de detenção que pode variar de três meses a um ano.
* https://www.vozdascomunidades.com.br/por: \Por; Gracilene Firmino
Σχόλια